DEIXAR-SE ELEVAR PELO SENHOR
Pe. Wellerson Roberto Dias
Pároco
Um dos esfriamentos mais trágicos de que a Igreja enfrentou na segunda metade do século XX foi ter negligenciado o dom do Espírito Santo no Sacramento da Penitência. Deixamos para nos confessar sempre ‘numa outra oportunidade’ e nos esquecemos de que as maravilhas de Deus nunca acontecem sob os refletores da história mundial. Estas sempre se realizam em lugar reservado: às “portas da cidade” (cf. At 9,3) como no segredo do confessionário. Faz parte da estratégia de Deus obter efeitos grandiosos usando de pequenos meios.
No dia a dia, estamos tão preocupados, em nosso trabalho pastoral, a fazer correções nas estruturas da Igreja, para que se pareça mais atraente, e acabamos por nos esquecer da conversão do coração, "do meu coração". O nosso coração é como que o tabernáculo da igreja. Ali, Deus habita de modo todo misterioso e especial. Mas existe um obstáculo, aquele que não permite que Cristo seja recebido, é o pecado. Este impede a presença do Senhor em nossa existência; assim, nada é mais necessário que a conversão. Numa palavra, esse é o Sacramento da Penitência. Quando um cristão se afasta do confessionário, entra em grave crise de identidade. O Sacramento da Penitência é o espaço privilegiado para o aprofundamento da identidade do cristão que foi chamado a sair das “trevas para a luz” (cf. Jo 9,7), chamado a se alimentar da plenitude de Cristo.
"Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte..." (cf. Lc 15,7), por que não nos convertemos mais frequentemente? Por que nos esquecemos do confessionário? Deus nunca se mostra tão Deus como quando perdoa. Deus é amor! Deus é a doação em pessoa! Ele doa a graça do perdão. Não é exagero dizer, mas EXISTEM MAIS PECADORES QUE PRECISAM DO PERDÃO DO QUE DO PÃO DE CADA DIA. Como é possível que um sacramento que evoca tão grande alegria no céu suscite tamanha antipatia na terra? Isso se deve à nossa soberba, a bastar-se a si mesmo, a isolar-se, a fechar em si mesmos.
A confissão nos permite o acesso a uma vida em que não é possível pensar em nada mais a não ser em Deus. E se reconhecêssemos um perdão como esse, um amor assim, a confissão se tornaria um compromisso fixo cheio de alegria em nossa vida. Ir confessar-se significa começar a amar a Deus um pouco mais com o coração, ouvir de novo e experimentar eficazmente que Deus nos ama. CONFESSAR-SE SIGNIFICA DEIXAR-SE ELEVAR PELO SENHOR AO SEU NÍVEL DIVINO.
De fato, no Sacramento da Penitência nós encontramos o Pai Misericordioso (cf. Lc 15,11-32) e os dons mais preciosos que tem para dar: a doação, o perdão e a graça. Mas quando alguém, por sua baixa frequência à confissão, é como se dissesse ao Pai: ‘Guarda para ti os teus dons preciosos! Eu não preciso de ti e de teus dons!’ Acaba deixando então de ser filho, pois se exclui da paternidade de Deus, já não quer receber seus dons preciosos.
Ter negligenciado o sacramento da penitência é a raiz de muitos males na vida da Igreja. E a chamada crise do sacramento da penitência não se deve apenas ao fato de as pessoas terem deixado de se confessar, mas também ao fato de nós, sacerdotes, já não estarmos presentes no confessionário. UM CONFESSIONÁRIO EM QUE UM SACERDOTE ESTÁ PRESENTE, MESMO NUMA IGREJA VAZIA, É O SÍMBOLO MAIS TOCANTE DA PACIÊNCIA DE DEUS QUE ESPERA. É assim que é Deus. Ele nos espera a vida inteira.
Texto adaptado da Conferência do Cardeal Joachim Meisner,
sobre “conversão e missão” – 2010.