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REFLEXÃO DA SEMANA - DOM MANOEL JOÃO FRANCISCO - BISPO DIOCESANO


Domingo de Ramos e Semana Santa

Dom Manoel João Francisco

A Quaresma aproxima-se do fim. No próximo domingo vamos celebrar o Domingo de Ramos e iniciar a Semana Santa. Nela nós celebramos os grandes e os mais santos mistérios de nossa salvação. Desde os primórdios da Igreja, a Semana Santa foi celebrada pelos cristãos. No entanto, os primeiros testemunhos escritos que temos são do século IV.


Nesta época, conforme o relato de uma monja espanhola, que peregrinou para a Terra Santa, em Jerusalém as celebrações começavam com o Domingo de Ramos. A uma hora da tarde o povo se reunia e celebrava durante toda a tarde, entrando, inclusive, na noite. De segunda a quarta-feira, as celebrações aconteciam ao cair da tarde. Na quinta-feira celebravam-se duas missas, uma delas no Gólgota, onde Cristo morrera. Esta particularidade mostra o nexo entre a instituição da Ceia eucarística e a oblação de Jesus na cruz. Na sexta-feira, bem de manhã a comunidade se reunia e descia ao Getsemani para celebrar. Em seguida ia em procissão até o Calvário. De volta para casa, as pessoas passavam diante da coluna da flagelação e faziam suas orações pessoais. À tarde voltavam ao Gólgota e faziam a adoração da Cruz. Alguns fiéis e o clero permaneciam em vigília até sábado de manhã. Sábado era um dia silencioso. Preparava-se apenas a vigília que acontecia à noite. Durante a vigília se celebravam o batismo, a crisma e a eucaristia dos catecúmenos preparados durante três anos.


Ainda hoje o esquema das celebrações da Semana Santa se parece muito com o esquema do século IV. Também em nossos dias, a Semana Santa começa com o Domingo de Ramos que, no Missal promulgado depois do Concilio Vaticano II, passou a se chamar Domingo de Ramos da Paixão do Senhor.Neste domingo celebramos a solene entrada de Jesus em Jerusalém. Para a fé cristã, Jerusalém é o lugar de encontro com Deus. O povo cristão por esta celebração se reúne em torno do Messias e se coloca neste espaço de fé e de conversão.


De segunda a quarta-feira, além das celebrações de todos os dias, não se faz nada de especial.


Na Quinta-feira celebra-se de manhã a missa em que se consagra o óleo da Crisma e se abençoa o óleo dos catecúmenos e o óleo dos enfermos. À noite celebra-se a Missa da Ceia do Senhor. Nela se faz a cerimônia do lava-pés e se comemora a instituição dos sacramentos da Eucaristia e da Ordem sacerdotal.


Na Sexta-feira, ao lado da austera celebração da Paixão e morte do Senhor, às três horas da tarde, a piedade popular desenvolveu muitas outras devoções, entre as quais, se sobressai a “Via-Sacra”, que nada mais é do que a dramatização da Paixão do Senhor.


No Sábado, diz o Missal Romano, a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e morte. É costume dizer que o Sábado Santo é um dia “alitúrgico”, mas não é exato falar assim, pois neste dia do Tríduo Pascal, celebra-se não somente a liturgia das horas, mas o dia em si mesmo é uma grande celebração. O permanecer em silêncio neste dia, por exemplo, significa ficar em casa com as santas mulheres, rodeando Maria e consolando a sua dor.


A Vigília de sábado à noite é, ou deveria ser, muito bonita. Foi chamada por Santo Agostinho de “Mãe de todas as vigílias”. Ficar acordado nesta noite significa reavivar nossa fé na ressurreição. Assim como estamos vencendo o sono que é imagem da morte, haveremos de vencer a própria morte. Nesta vigília distingue-se, de forma bem distinta quatro liturgias: a liturgia da luz, a liturgia da palavra, a liturgia batismal e a liturgia eucarística. A liturgia da luz com a bênção do fogo novo e a entrada na igreja com o Círio pascal recorda-nos que Cristo ressuscitado é nossa luz e luz do mundo. A liturgia da palavra pretende dar uma visão sintética e global da história da salvação conquistada em plenitude com a ressurreição do Senhor. A liturgia batismal consiste na bênção da água e, se for oportuno, no batismo de alguns adultos ou crianças. No início do cristianismo o batismo se realizava na noite de páscoa porque com batismo, como diz S. Paulo, nós sofremos com Cristo, morremos com ele, somos sepultados com ele e ressuscitamos com ele. A liturgia eucarística, mais do que em outras oportunidades, vem nos lembrar que quem come o corpo e o sangue do Senhor terá a vida eterna e ressuscitará com ele no dia do juízo.


Como podemos ver a Semana Santa é muito rica em seu conteúdo teológico e espiritual. Aproveitemos, por isso, deste tesouro que nos é proposto, participando de todas as celebrações desta semana e tenhamos uma feliz Páscoa.

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